Sempre que alguém me procura para fazer um processo de mentoria, eu busco entender além do momento profissional e das motivações. Uma das minhas investigações é sobre se há abertura e disposição para que o aprendizado aconteça.
Algumas vezes, eu já disse:
O processo de mentoria não é para você neste momento. Procure outras formas de aprender e mais tarde você me procura.
Para entender por que o badalado processo de mentoria pode não ser para você, é importante entender como o aprendizado acontece e para falar sobre isso considero importante falar sobre como fomos ensinados a pensar o nosso aprendizado. Fomos socializados de uma forma que o nosso aprendizado está delegado para uma outra pessoa que decide o que devemos aprender, e por quanto tempo e com qual método. Isso nos coloca em uma posição passiva de aprendizado. Não fomos incentivados a ter autonomia.
Além disso, esta forma de socialização em que alguém detém e entrega esse conteúdo nos levou a acreditar que consumir conteúdo é aprender, mas não é.
Quando pensamos em aprender, pensamos em ler um livro, fazer um curso, procurar um professor ou professora para nos oferecer conteúdo, mas isso não garante que o aprendizado ocorra.
Consumir conteúdo é uma etapa inicial que não pode nem deve ser desprezada, mas não garante que o aprendizado ocorra.
Então quando podemos dizer que aprendemos?
Quando percebemos que estamos aptos a fazer algo de uma forma diferente ou melhor do que fazíamos antes, ou possuímos uma atitude diferente em relação a situações que já vivemos muitas vezes.
Vou trazer um exemplo:
Você é líder de uma equipe com 10 pessoas e vem tendo problemas com o engajamento da equipe. Os trabalhos não estão sendo entregues no prazo, algumas pessoas parecem abatidas e sem propósito. Também recebeu feedback que a suas reuniões são muito cansativas e impessoais.
Buscando a melhoria, ingressa em um treinamento de engajamento de times e lá descobre que uma boa forma de manter o engajamento de uma equipe é criando vínculos de confiança através de uma conexão emocional.
Você volta para suas atividades rotineiras e tem dois caminhos, continuar suas reuniões como sempre fez ou testar uma nova forma baseada no conteúdo que você recebeu.
Decide então pelo segundo e implanta duas ações: a primeira é fazer um checkin/checkout emocional na abertura e no final de suas reuniões e a outra é estabelecer reuniões one-on-one com os membros de suas equipes.
Ambas as ações têm como objetivo criar confiança através de vínculos emocionais. Você absorveu essa informação do treinamento, mas, só agora vai experimentar e conduzir a sua equipe a ter outra relação emocional com você e com a equipe como um todo através da criação de um ambiente seguro emocionalmente.
Com o tempo você vai experimentando novas emoções com essa nova prática e a partir de agora, você irá utilizar essas ou outras práticas parecidas para gerar conexão com esta equipe e com as quem vierem. Pronto. O aprendizado está instalado.
Conto essa história fictícia para falar sobre quais as condições necessárias para que o aprendizado ocorra. Segundo Conrado Schlochauer, no seu magnifico livro LifeLong Learning “O aprendizado só ocorre quando vivemos experiência que nos causam mudanças”, nas minhas palavras, ele ocorre também com conteúdo, mas vem de experiências e emoções.
Entendendo então como o aprendizado ocorre, para que o processo de mentoria seja bem sucedido e seja para você, algumas condições precisam estar presentes. São elas:
- O mentee ser responsável pelo seu aprendizado, tendo clareza do que precisa aprender e quais as suas necessidades de desenvolvimento.
- Deve ser um(a) participante ativo no processo trazendo as suas questões para reflexão.
- Precisa dar intencionalidade para o aprendizado aproveitando todas as oportunidades para experimentar seus novos insights.
- Estar com a capacidade reflexiva aguçada para absorver novas sinapses.
- Ter paciência para que o aprendizado de reminiscência aconteça.
Creio que existe ainda muita dúvida e confusão sobre no que consiste um processo de mentoria e aproveito para dar alguns esclarecimentos.
- O processo de mentoria é uma relação de troca, onde as vivências individuais são potencializadas em novos insights e novos aprendizados.
- O papel do mentor(a) é fazer com o que o aprendiz aprenda. Não é dar conselho ou entregar conteúdo.
- A mentoria é um poderoso instrumento de transferência de conhecimento e propicia atalhos de performance em algo que o mentee aprenderia mais lentamente ou simplesmente não aprenderia.
- É muito importante que a relação não seja reproduzida em uma relação clássica de aprendizado, em que se tenha uma relação hierárquica de mestre e aluno;
Depois disso, o que acha? está preparado para um processo de mentoria?
Caso, você queira conhecer um pouco mais sobre o meu processo de mentoria, clica nesse link.
Abraços e até a próxima.